Os quatro anos que separam a Copa no Brasil do Mundial que começa no próximo dia 14 na Rússia não foram suficientes para terminar obras de infraestrutura que deveriam ter sido entregues até 2014. De todas as 12 cidades-sede brasileiras, 11 têm algum projeto que chegou a ser prometido para a Copa ainda inacabado.
Apenas o Rio concluiu todas as obras, não necessariamente dentro do prazo para a Copa de 2014. Além disso, a cidade recebeu a Olimpíada dois anos depois, razão pela qual muitos projetos não foram deixados de lado assim que o torneio de futebol terminou – como ocorreu em outras capitais.
A maioria das obras que ainda não foram entregues é da área de mobilidade urbana ou de ampliação e melhorias em aeroportos. Falta de dinheiro, problemas com empreiteiras, contratos rescindidos e impasses judiciais e com desapropriações estão entre as causas do atraso de anos na conclusão dos projetos, segundo as administrações.
Veja a situação em cada cidade-sede:
Belo Horizonte
No Aeroporto Internacional de Confins há obras de ampliação e modernização do terminal paradas desde setembro de 2014. A empresa que opera o local desde agosto daquele ano afirma que melhorias prometidas para a Copa são responsabilidade da Infraero. Ambas estão em negociação para concluir as intervenções.
Cuiabá
Nove obras prometidas para a Copa de 2014 seguem inacabadas na capital de Mato Grosso – e isso tem custado caro aos cofres públicos. Entre elas, está a construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que já consumiu R$ 1,066 bilhão e está parada desde dezembro de 2014. Só 6 km de trilhos foram concluídos, do total de 22 km.
Uma nova licitação será feita e não há prazo de conclusão. Enquanto isso, a manutenção de 42 vagões e de outros materiais já comprados custa R$ 16 milhões por mês.
Curitiba
Quatro das 13 obras prometidas para a Copa ainda não foram concluídas – três de responsabilidade do governo estadual, e duas, da Prefeitura de Curitiba. Todas elas fazem ligação entre a capital e a Região Metropolitana, como o corredor Aeroporto-Rodoferroviária – onde já foram investidos mais de R$ 44 milhões – e a reforma e ampliação do Terminal do Santa Cândida.
Entre as razões alegadas para o atraso de anos estão problemas com as empresas que venceram as licitações e impasses judiciais.
Brasília
São cinco obras prometidas para a Copa atrasadas, entre elas a urbanização do entorno do estádio Mané Garrincha e a construção do VLT entre o Aeroporto de Brasília e o Plano Piloto. Em 2012, o governo do DF desistiu de entregar o entorno do estádio a tempo para a Copa. Novos prazos foram estabelecidos, mas desde então nada foi feito.
O projeto do VLT foi cancelado definitivamente em 2015. Na ocasião, o Metrô, responsável pela obra, disse que estudava “novos traçados para o veículo”. Três anos depois, nenhum novo plano foi anunciado. Foram gastos pelo menos R$ 20 milhões antes da suspensão do projeto.
Fortaleza
A previsão de entrega da expansão do Aeroporto Pinto Martins era dezembro 2013, mas os trabalhos foram interrompidos em maio de 2014. O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) que iria cruzar 22 bairros também não foi entregue e, em alguns pontos da obra, moradores convivem com transtornos há seis anos.
Com custo inicial de R$ 307,5 milhões, a obra do VLT teve o contrato rompido pelo governo estadual com o consórcio responsável após uma série de atrasos. Desde então, cinco licitações foram feitas para tentar dar continuidade à obra – que se encontra com 75,32% de avanço.
Manaus
O BRT, sistema de ônibus rápido, seria o principal meio de transporte para os torcedores até a Arena da Amazônia. Porém, em 2012, o governo estadual e a prefeitura desistiram de entregar a obra para a Copa, alegando atraso na liberação de recursos para o projeto. Mas ficou a promessa de entregá-lo depois do Mundial – porém a obra ainda nem foi licitada. A prefeitura afirma que o projeto já está pronto, mas não dá detalhes nem prazos.
Dos três Centros de Atendimento ao Turistas prometidos para a Copa, um está com as obras paradas e os outros nem saíram do papel.
Natal
Ao menos quatro obra previstas para a Copa na capital do Rio Grande do Norte ainda não foram entregues. A mais atrasada é a reforma e padronização de 55 km de calçadas nas avenidas que dão acesso à Arena das Dunas, na Zona Sul da cidade. Com 5% do projeto executado, a obra precisou ser parada por problemas com desapropriações.
A obra dos acessos ao Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves deve ser entregue dentro de 60 dias sem o viaduto que era previsto para ligar a estrada à BR-304 por falta de dinheiro para essa etapa.
Porto Alegre
Das 18 obras previstas para a Copa de 2014 na capital gaúcha, dez estão atrasadas e duas nem começaram – todas na área de mobilidade urbana. Parte de um financiamento de R$ 120 milhões do Banrisul será usado para concluir alguns dos projetos.
Recife
São cinco as obras de mobilidade prometidas para a Copa ainda não entregues. Além disso, o governo do estado rescindiu no ano passado o contrato para construir a Cidade da Copa, projeto apresentado como primeiro modelo de cidade inteligente no Brasil
Rio de Janeiro
A cidade tem as obras prometidas para a Copa do Brasil concluídas. Entretanto, um dos principais investimentos de mobilidade para o Mundial sofre com vandalismo e falta de manutenção.
O G1 percorreu os 39 km do BRT Transcarioca, que liga a Barra da Tijuca ao Galeão, e viu sinais de depredação em ao menos 26 das 47 estações. Usuários reclamam do serviço, de portas quebradas, sujeira e falta de manutenção. O custo da obra chegou a quase R$ 2 bilhões, R$ 700 milhões a mais que o valor inicial. O contrato é alvo de investigação na Lava Jato.
Salvador
Reformas no aeroporto internacional da capital baiana se arrastam até hoje. Houve troca de administração da Infraero para uma empresa francesa, que ainda irá concluir a nova área de check-in. A implementação do BRT na cidade chegou a estar na lista das obras prometidas para a Copa de 2014, mas foi retirada porque não ficaria pronta a tempo. A ordem de serviço para iniciar as obras só foi assinada em março deste ano.
São Paulo
A Linha 17-Ouro do monotrilho, que chegou a ter a inauguração anunciada para antes da Copa de 2014, até hoje não teve nenhuma estação entregue. O projeto foi retirado da lista de obras do Mundial por causa da mudança do estádio da Copa para Itaquera, na Zona Leste. Desde então, os valores da obra aumentaram, e os prazos foram sucessivamente ampliados.
A construção tem sido investigada e alvo de vários questionamentos do Tribunal de Contras do Estado. Inicialmente orçada em R$ 1,39 bilhão, a obra agora deve chegar a R$ 3,5 bilhões. De acordo com o Metrô, a execução do trecho prioritário, entre o Aeroporto de Congonhas e a estação Morumbi da CPTM, está em andamento e deve ser entregue em 2019.