O ano é 2022. O local, uma escola municipal na Zona Rural de Seabra, na Chapada Diamantina, onde estudam diversos adolescentes. A cena: um adolescente entra na sala de aula sem camisa, afinal, vinha da quadra de esportes da escola onde estava fazendo atividades. A vice-diretora passa no momento, vê a cena e profere a seguinte frase: “Para mim é um desafio conviver com negros”. Detalhe: o aluno sem camisa é negro.
A cena ocorreu nesta terça-feira (13). O aluno a quem foi dirigida a ofensa não ouviu a frase, pois estava longe da vice-diretora, porém, duas colegas dele estavam do lado da Senhora e ouviu claramente a frase e percebeu o contexto. Isso gerou muita insatisfação. Comunicaram imediatamente ao aluno ofendido, o qual se sentiu indignado “muito chateado”. Os demais alunos ficaram sabendo, e resolveram levantar a voz e fazer a denúncia à sociedade, como forma de gritar: Basta!
Sentindo-se atacados por ato de racismo, os alunos da escola em questão decidiram fazer uma manifestação, nesta quarta-feira (14), pelas ruas do povoado, com cartazes e frases contra o racismo. Segundo alunos atuais e ex-alunos da escola, a forma pejorativa de racismo e até mesmo o bullying, na percepção do preconceito e da discriminação racial, sempre existiram na escola, porém, o medo, a intimidação, os fizeram calar. Desta vez, a indignação falou mais alto e os estudantes agiram rapidamente, com as armas que tinha em mãos: a manifestação.
“O que me deixou mais triste, indignado pela situação, foi o fato ter partido de uma vice-diretora. Que está lá para fazer o papel de lutar contra o racismo, lutar contra as formas de perseguição contra as minorias. A gente fica sem norte, sem saber a quem recorrer, se a pessoa que está lá para nos ajudar está cometendo o mesmo ato de racismo. Acreditamos que a escola seja um espaço no qual vai nos ajudar, tanto negros, quanto indígenas, LGBTQI+, contra discriminações com as minorias. Aí tem pessoas lá dentro cometendo esses atos. Isso que me deixou mais preocupado’, ressalta João Batista, líder comunitário quilombola que apoiou a manifestação.
A Prefeitura Municipal de Seabra reagiu com a mesma rapidez, na própria quarta-feira (14), publicou uma Nota de Repúdio, através da Secretaria de Educação, contra o racismo e a intolerância.
“Precisamos desconstruir essa prática, esse discurso, esse tipo de pensamento racista instaurado por uma visão colonizadora no século XVI, pois, “ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele ou por sua origem ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender” (MANDELA, 1995). Enquanto trabalhadores da Educação, mais do que repudiamos, trabalhamos na ação de desconstrução de todas as práticas de discriminação por uma sociedade que respeita a igualdade”, pontua a Gestão.
A Gestão, querendo ouvir todas as partes, fez uma reunião, com os envolvidos, juntamente com o Conselho Municipal de Educação, O Conselho de Reparação Racial e algumas Lideranças Quilombolas da Chapada. Por fim, a Gestão achou por bem exonerar a funcionária do cargo de vice-diretora em decreto municipal publicado nesta quarta-feira (14).
Procuramos a vice-diretora, mas até o fechamento dessa matéria não obtivemos retorno.
Chapada News