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Seabra: empreendedorismo feminino ajuda a combater a violência contra a mulher

No município, já foram registradas 36 ocorrências em 2024.

“Ela fica com ele porque precisa”. Quem nunca ouviu essa frase, ao questionar o porquê de uma mulher permanecer em um relacionamento abusivo ou violento? As dependências financeira e emocional são alguns dos principais problemas que as mulheres enfrentam para encerrar relacionamentos abusivos.

Antes de qualquer coisa, é preciso entender que o termo “violência contra a mulher” reúne vários tipos de violência, dentre os quais a física é apenas um. O comum a todos, no entanto, é serem motivados pelo gênero, ou seja, agressões que as mulheres sofrem por serem mulheres. Isso inclui também a violência psicológica, emocional, moral, patrimonial, financeira, sexual e doméstica, além do feminicídio, homicídio que é cometido em razão do menosprezo à condição do sexo feminino.

Uma pesquisa realizada a cada dois anos pelo Instituto DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV) divulgada no final de 2023, revelou que três a cada dez brasileiras já sofreram violência doméstica. Na pesquisa, dentre as entrevistadas, a violência psicológica é a mais recorrente (89%), seguida pela moral (77%), física (76%), patrimonial (34%) e sexual (25%).

Uma parcela considerável dos autores desses crimes é formada por parceiros ou ex-parceiros íntimos das vítimas. Cerca de metade das agredidas (52%) sofreram violência praticada pelo marido ou companheiro e 15%, pelo ex-marido, ex-namorado ou ex-companheiro. E as mulheres com menor renda são as que mais sofrem violência física, diz o estudo. 

Esses dados jogam luz naquilo que precisa ser debatido: quanto mais dependente for a mulher, mais suscetível estará a sofrer violência de gênero. Por isso, incentivar a independência financeira das mulheres está entre uma das principais formas de combater a violência. Além de aumentar a autoestima e perspectiva profissional, a mulher tem a liberdade de encerrar relacionamentos abusivos, especialmente se o motivo que a vincula ao agressor seja a dependência financeira.

Rose Castro e Herriete Cedraz, presidentes dos Conselhos Municipal e Estadual com conselheiras

Em Seabra, o Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC), iniciativa vinculada à Associação Comercial Empresarial e Agrícola de Seabra (ACISE) e que representa, em âmbito municipal, o Conselho Nacional da Mulher Empreendedora e da Cultura, atua diretamente no fomento ao empreendedorismo feminino na cidade e, com isso, busca ajudar mulheres em situações de vulnerabilidade.

Rose Castro

“Em Seabra, temos vários casos de mulheres que apanham e vivem junto [com os agressores], são casos de violência física mesmo. Já tive contato com mulheres que vão trabalhar de óculos escuros todos os dias.” Quem conta é Rose Castro, presidente do CMEC, que acrescenta que a mulher ainda tem dificuldade para perceber os outros tipos de violência: “Muitas vezes, quando não é violência física, a mulher não percebe. Na cabeça da mulher, ainda se acha que violência doméstica é só apanhar. Violência moral, por exemplo, é uma das piores.” Dados da Delegacia Regional de Seabra dão conta de que, entre ameaças e lesões, já foram registradas 36 ocorrências de violência contra a mulher nesse início de 2024.

De acordo com Rose, o papel principal do CMEC é capacitar as mulheres que já são empresárias, por meio de cursos e capacitações, além de fomentar o associativismo como uma forma de fortalecer a rede de empreendedoras. No entanto, uma das frentes de atuação que se tornou necessária foi junto àquelas mulheres que ainda não têm empreendimentos formais e precisam de orientações básicas.  

“Existem aquelas que estão em vulnerabilidade social, que passam por abusos e que por não ter o que fazer, empreendem em casa, mas não têm público, não conseguem prospectar clientes. O CMEC entra com uma rede de apoio para ela entender o empreendimento, onde está pisando, o que precisa fazer. Nesse caso, são pessoas que vendem muito pouco, não se sustentam. O CMEC ajuda a direcionar: Sebrae, Acise, Casa do Empreendedor ou instituições financeiras parceiras”, explica Rose. “Se ela seguir os passos corretamente, vai conseguir a sua liberdade financeira, passando a ser protagonista da sua própria história”, completa.

O CMEC Seabra está em atuação desde o ano passado, quando foram realizadas palestras e cursos de gestão financeira, marketing e autoestima da mulher para um público de 38 conselheiras que fazem parte do CMEC e para a sociedade em geral, ainda que não associadas ao conselho. Para este ano de 2024, está prevista uma parceria com o Sebrae que trará cursos online, presenciais e oficinas, além de vários eventos que já são comuns ao calendário do conselho, sempre com o intuito de promover o desenvolvimento das mulheres por meio do empreendedorismo.

Ananda Azevedo – Chapada News, o portal de notícia da Chapada Diamantina.

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