Doença é considerada uma epidemia silenciosa, campanha já aconteceu em Iraquara e Irecê.
No dia 26 de fevereiro desse ano, o apresentador Faustão realizou um transplante de rim devido ao agravamento de uma doença renal crônica. No caso do apresentador, problemas cardíacos afetaram o funcionamento dos órgãos, tanto por conta da insuficiência de fluxo sanguíneo do coração para os rins, quanto por conta dos medicamentos usados para o tratamento cardíaco, já que o apresentador também passou por uma cirurgia de transplante de coração há pouco mais de seis meses.
Embora o procedimento tenha sido bem-sucedido, Fausto Silva ainda está internado por novas complicações na adaptação do novo órgão, que ainda não está funcionando corretamente. As notícias a respeito das questões de saúde do artista estão sendo acompanhadas por milhões de brasileiros e suscitou dúvidas em muitas pessoas a respeito dos problemas renais, especialmente a doença renal crônica.
No dia 14 de março, destaca-se o Dia Mundial do Rim, data estabelecida pela Associação Internacional de Nefrologia e marcada pela Sociedade Brasileira de Nefrologia com campanhas em mais de mil cidades brasileiras.
O endocrinologista Luciano Dourado, da Clínica de Hemodiálise da Bahia, o Dia Center, trouxe dados alarmantes sobre a doença renal crônica no país e sua fala serve como alerta para as possibilidades de tratamento e, em especial, prevenção da doença. De acordo com o médico, vivemos, em todo o país, uma epidemia silenciosa pela doença renal, já que todos os anos, em torno de 50 mil pessoas morrem pela doença no Brasil. Luciano disse, ainda, que cerca de 10% da população têm algum grau de doença renal, ainda que leve e que, ainda que a população brasileira esteja com o crescimento aparentemente estagnado, o número de pacientes com doença renal crônica vem aumentando. Isso se deve ao envelhecimento da população e a fatores de risco como a hipertensão e diabetes, que são comorbidades que causam predisposição à doença.
O médico chama a epidemia de silenciosa porque boa parte dos pacientes que têm a doença desconhecem o seu estado de saúde até que apresente um sintoma mais grave que já pode levar à necessidade de hemodiálise ou transplante, como no caso da situação do apresentador Faustão. Ele conta que boa parte dos pacientes renais morre sem o diagnóstico da doença.
“O rim funciona como um filtro do nosso sangue. No caso de pessoas com pressão alta e diabetes, o sangue fica mais “sujo” e o rim, que é um filtro, vai entupindo gradativamente, até que pára de funcionar e então, a pessoa percebe que começa a inchar, ficar com a pressão muito alta, enjoos, náuseas, falta de ar e acaba sendo internada numa condição que já não há muito o que fazer além da hemodiálise ou transplante”, contou.
No entanto, para detectar a qualidade da função renal no organismo não é complicado, conforme explica o médico, um exame barato e simples que mede a creatinina é o mais importante para se aferir qualquer alteração nos rins, ainda que em estágio inicial. Ele explica que o exame de urina também é eficiente, uma vez que consegue detectar a presença de proteína na urina – a chamada perda de proteína – , no entanto, isso já é indicativo de que a filtragem do sangue pelos rins não está ocorrendo de forma efetiva.
De acordo com o doutor Luciano, quando em estágio inicial, as alterações nos rins têm tratamento, podendo prorrogar a necessidade de hemodiálise por muitos anos, por isso há a necessidade de se fazer a checagem da creatinina ao menos uma vez ao ano. Esse é o mote de uma campanha que a clínica está realizando em algumas cidades da Chapada, inclusive em Seabra.
Durante o período de 7h às 9h da manhã deste sábado, 16, um stand estará montado na feira livre de Seabra com atividades de saúde como aferição de pressão, medição de glicemia e a coleta para os exames de creatinina em pacientes com mais de 60 anos ou que apresentem diabetes, hipertensão e obesidade. Além disso, haverá a presença de uma equipe multidisciplinar com nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais com a função de conscientizar e levar mais informações para as pessoas que passarem pela feira. Os exames são gratuitos, basta que a pessoa leve seus documentos de RG, CPF e cartão do SUS.
Durante todo o ano, na Dia Center, é possível que qualquer paciente que tenha feito seu exame de creatinina envie os resultados para serem analisados pelos profissionais da clínica, por meio do whatsapp divulgado em suas redes sociais. Mesmo os pacientes que não sejam atendidos pela secretaria de saúde podem enviar seus exames para a clínica e terão a análise dos resultados. “Essa é a função da clínica de hemodiálise: tratar as pessoas que precisam, próximo de casa e evitar que essa epidemia prolifere. A gente esquece dos rins; faz campanha da próstata, da mama, e o rim fica esquecido, só lembra quando tem problema”, destacou dr. Luciano.
Questionado sobre a saúde renal do cidadão chapadeiro, o médico informou que o número de pacientes em tratamento é menor do que o esperado pelo tamanho da população, o que ocorre em virtude das pessoas, normalmente, desconhecerem que têm o problema. Um outro dado importante é sobre a quantidade de jovens, entre 20 e 40 anos com doença renal crônica que, segundo ele, na Chapada está em percentual maior do que no resto do país.
A Dia Center oferece tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pode acompanhar os pacientes num ciclo completo, com a identificação do problema, tratamentos e, se necessário, encaminhamento para o transplante. “Na semana passada, tivemos uma paciente de Iraquara que foi transplantada no Hospital Ana Neri, através da Clínica de Hemodiálise de Seabra”, contou o médico. Na campanha deste sábado qualquer pessoa poderá realizar o exame, sendo de Seabra ou não.
Foto: reprodução Instagram Dia Center