Filme dirigido por Luna Alkalay, uma das primeiras mulheres a assinar a direção de um longa-metragem no Brasil, tem elenco de renome na história do cinema nacional.
As passagens históricas contadas na tradição oral da Chapada Diamantina são quase lendas, formando uma mitologia própria que inspira a todos, moradores e visitantes. Cada um é tocado de uma forma diferente pelos “causos” falados ao vento, para os quais sempre haverá quem jure “de pés juntos” que realmente aconteceram.
Há ainda aqueles para quem não importa se as histórias são verídicas, mas que decidem materializar a tradição como vivência que – sim – existe no imaginário popular. As histórias da Chapada tem coronéis, donzelas, forasteiros, disputas e diamantes, elementos perfeitos para um enredo. A cineasta Luna Alkalay foi tocada pela magia dessas histórias e resolveu também deixar a sua marca por essas bandas. Ela, que vive em São Paulo, conta que em viagem à Bahia, recebeu a sugestão de conhecer a Chapada e ao chegar em Mucugê se encantou com as histórias que ouviu na cidade.

“Quando cheguei em Mucugê comecei a ouvir as histórias do diamante, era tudo tão lindo, tão mitológico com sagas, coronéis, entidades. Eu estava procurando uma história para fazer meu primeiro longa. Fiquei sabendo de um coronel cujas filhas tinham nomes de óperas – não sei se é verdade. O importante é que uma delas se chamava Maria do Rigoletto, que é uma ópera linda. Voltamos para São Paulo e começamos a trabalhar no roteiro dessa história”, contou.
A história virou um filme, Cristais de Sangue, gravado em 1974 nos municípios de Mucugê, Lençóis e no distrito de Igatu, em Andaraí. Na época, o filme passou em salas de cinema em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Salvador e, em seguida, foi recolhido pela Cinemateca Brasileira e lá ficou preservado por quase 50 anos.

A trama do longa gira em torno da jornada de um africano que desembarca no Brasil, determinado a encontrar seu pai, que era garimpeiro na Chapada Diamantina. Nesse cenário, o protagonista se envolve em um romance com a filha de um coronel local, desencadeando uma história cheia de emoções nos cenários deslumbrantes da Chapada quase intocada de 50 anos atrás.
No ano passado, foi restaurado e digitalizado, e agora ganha reestreia na cidade de origem nesta sexta, 10 de maio. De acordo com Luna, o filme está exatamente igual ao original e foi exibido em uma mostra sobre a filmografia dela na própria cinemateca em março deste ano. Agora vai à praça pública encantar os mucugeenses.
Após todo esse tempo sem vir à cidade, Luna relembra: “Começamos a filmar no inverno de 74 com uma luz maravilhosa, com pessoas incríveis e aí eu percebi que a cidade podia e deveria fazer parte do filme. Hoje, a cidade vai se rever no filme, passados 50 anos, e eu tenho encontrado pessoas pela rua que participaram das gravações.”

A programação da exibição em Mucugê contou com oficinas realizadas nessa quinta, 9, e sexta, 10 e trará uma programação cultural com apresentações musicais do Coro Livre e Pequenos Cantores de Mucugê e da Sociedade Musical Filarmônica 23 de Dezembro.
Em seguida, serão exibidos o documentário Cristais de Sangue 1974-2024, de Felipe Abramovictz e o longa de 80 minutos Cristais de Sangue, no qual Luna assina direção, cenografia, figurino e roteiro, junto com Aloysio Raulino e Caetano Lagrasta.
Ananda Azevedo | Fotos: Divulgação