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Tradição em Seabra: conheça o Encontro de Cultura e Fé

O encontro chegou à sua 18ª edição em 2024 valorizando a cultura popular e contando com público de aproximadamente três mil pessoas na comunidade de Vazante no último final de semana.

Um encontro de vida longa, propósitos bem definidos e mentorado por representantes e lideranças comunitárias, esse é o resumo do Encontro de Cultura e Fé realizado anualmente no município de Seabra.

Criado e organizado por muitos anos pelo mestre Griô e líder quilombola, Sr. Jaime Cupertino, o encontro tem como objetivo central fortalecer as manifestações culturais dos batuques, cantigas de roda e, sobretudo, dos grupos de reisado. Na programação, há espaço para apresentações de grupos de tradição cultural, de fé e também associações escolares, todos versando sobre a identidade local, história e cultura das comunidades.

Já são 18 edições em comunidades rurais e até mesmo na sede do município de Seabra, uma por ano desde 2003, tendo sido interrompido apenas no período da pandemia. No início, um dia de apresentações voltadas para a cultura viva das localidades; atualmente, um espaço de formação cidadã que dura em torno de um mês e meio a três meses em eixos como meio ambiente, protagonismo juvenil e empoderamento feminino.

Todos os eventos são realizados por uma comissão formada por 11 pessoas, além das comissões locais formadas exclusivamente para a produção do evento, com membros da  comunidade que está sediando. 

O coordenador da comissão permanente é o professor Lauro Roberto Ferreira Oliveira que, além de ser docente da rede municipal de Seabra, é militante do movimento quilombola, mestre em ensino de história e pesquisador na área de história oral. Ele conta que com o adoecimento e morte do Sr. Jaime, passou a ser dele a responsabilidade de coordenar a comissão permanente e as comissões locais.

Com a sua chegada, veio também a introdução dos processos formativos na comunidade, que acontecem uma vez por semana, nos meses que antecedem o encontro. “Ao longo do tempo, foram sendo introduzidos eixos que oferecem formação na comunidade, por exemplo o ambiental, que faz formação sobre o meio ambiente, o da juventude para fortalecer o protagonismo juvenil, preparando os jovens para desenvolverem pesquisas e ter uma postura investigativa que os ajude a escrever a história da comunidade’, contou. Na edição desse ano, plantaram mais de 300 mudas de árvores.

O professor acrescenta que já têm escritas pelas mãos dos jovens locais, as histórias das comunidades de São Lourenço e do Vazante. “Outro eixo importante é o fortalecimento do protagonismo e empoderamento feminino, normalmente com palestrantes convidadas. É um evento formativo que prepara as mulheres para enfrentar os obstáculos que uma sociedade machista impõe”, concluiu.

No último encontro, que durou o dia inteiro, estima-se que em torno de três mil pessoas tenham participado. A organização do evento contabilizou 2.300 refeições servidas e mais de 36 grupos que se alternaram nas apresentações. 

Como filho da terra e coordenador também da comissão comunitária, o professor Lauro elogiou o povoado de Vazante. “Quero dar destaque à importância que foi dada a todo o processo pela comunidade da Vazante, especialmente os jovens. Deram exemplo de como organizar um evento fazendo com que prevaleça a força do coletivo”, ressaltou.

Quando questionado sobre o legado que o encontro deixa na comunidade, Lauro explica que é um encontro apartidário que, além de mostrar a beleza da cultura e da tradição chapadeira, também lembra as comunidades dos direitos sociais que têm. 

“Inicialmente, temos o propósito de lembrar as pessoas que elas têm direitos: energia, iluminação pública, água encanada, praça, uma estrada de qualidade, a uma escola, a saúde. Uma das coisas que o encontro faz é intermediar essa relação com o poder público, buscando que ele cumpra seu papel. Em todo lugar que o encontro vai acontecer, a prefeitura, que também é patrocinadora, tem que desenvolver ações como a melhoria da iluminação pública, da estrada, do sistema de abastecimento de água, entre outros. Isso ajuda na formação da população para ocupar um lugar de cidadania, para aprender a cobrar do poder público e não apenas votar”, completou.

Ananda Azevedo | Fotos: Divulgação

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