Rivais em campo, amigos na vida, um atleta representa o Bahia e o outro, também seabrense, faz parte do time do Vitória do futebol de amputados.
No final de semana passado, entre 16 e 19 de maio, a Copa Norte-Nordeste de futebol de amputados foi disputada em Natal, no Rio Grande do Norte. Os dois times finalistas, Bahia e Vitória tinham em comum o fato de contarem com dois atletas da Chapada, mais precisamente da cidade de Seabra, em campo.
Ronilson Pereira Alvez é goleiro no time do Vitória e Herbert Diego Souza Araújo é artilheiro no Bahia, ambos da modalidade. Mostrando que a paixão nacional também tomou conta dos seabrenses, os dois disputam diversos campeonatos, treinando em Salvador, aproximadamente a cada 15 dias, para enfrentar campeonatos como o Baiano, Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro e outros que fazem parte do calendário anual do futebol de amputados.
Diego joga há mais ou menos seis anos, sendo a maior parte do tempo no clube do Bahia. Ronilson era do Bahia, mas a associação que coordena os dois times percebeu que o Vitória precisava de um reforço e transferiu o goleiro, que chegou a defender três pênaltis na semifinal da copa. A atuação exemplar gerou um apelido para o atleta: paredão.
De acordo com Diego, as copas e torneios na modalidade duram entre três e quatro dias e, para cumprir o tempo de campeonato os times têm uma rotina intensa, fazendo duas partidas por dia. Na modalidade, todos os jogadores da linha devem jogar sem as próteses e os goleiros só podem defender usando uma das mãos, ainda que a deficiência seja parcial. Nesse caso, jogam com uma das mãos imobilizadas, presas por baixo da camisa.
Os atletas contaram da motivação para os campeonatos e que, na medida do possível participam em todos que conseguem a classificação. Para o próximo campeonato que o Bahia de Diego participará, a Copa do Brasil, ele terá que viajar para São Paulo no período do São João, época especial para os chapadeiros, mas nem isso o desanimou: “a paixão por futebol é braba desde pequeno”.
Diego perdeu parte da perna em um acidente aos 13 anos. Ele conta que levou bastante tempo e muitas cirurgias para tentar reconstituir o membro, mas que chegou um momento em que o incômodo era grande e ele resolveu amputar, entre 2016 e 2017. “Depois que amputei, descobri esse time em Salvador e poder voltar a jogar foi a melhor coisa que aconteceu porque jogar bola era tudo na vida”, contou.
Ronilson concorda com o amigo, ressaltando a importância da inclusão por meio do esporte. “Muitas pessoas acham que quando acontece um acidente não dá mais, que não dá para fazer nada. Hoje eu agradeço a Deus por conseguir fazer tudo”, contou. Ele falou ao Chapada News sobre a vontade de montar um time na cidade para não precisar se deslocar tantos quilômetros até Salvador. “Há tantas cidades próximas, como Iraquara e Palmeiras, caso haja bastante divulgação, quem sabe não consigamos montar um time aqui”, completou.
As viagens de Seabra até a capital e a hospedagem para os treinamentos são custeadas com recursos próprios e ambos defendem mais incentivo para que o esporte atinja pessoas que não tenham condições de arcar com os deslocamentos.
O transporte dos times baiano entre Salvador e Natal para a Copa Norte-Nordeste foi custeado com apoio da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb), autarquia da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre). Os times lograram sucesso sendo o Bahia campeão e o Vitória vice campeão deste ano, numa final cujo resultado foi 3×1 para o tricolor, no domingo (19). Ao todo, 37 jogadores da Associação Baiana de Desporto Adaptado (ABDA) disputaram o torneio regional.
O coordenador do Núcleo de Paradesporto da Sudesb, Adelmare Junior, celebrou a conquista. “Ficamos muito felizes quando nossos atletas baianos conseguem representar bem o nosso estado e trazem títulos para casa. A dobradinha mostra a nossa força no futebol de amputados”, ressaltou.
Os atletas foram os entrevistados desta quinta-feira (23) no JMD, confira:
Ananda Azevedo | Fotos: Acervo Pessoal
