Amanda Gregório Alves e Sabrina Araújo de Souza apresentaram experiência desenvolvida no Colégio Estadual do Campo Filinto Justiniano Bastos no VIII Simpósio de Pesquisa e Experiências Agrícolas da Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural.
A tradição familiar do cuidado com a saúde por meio do uso das plantas medicinais foi pano de fundo para o trabalho desenvolvido pela professora Silvana Souza da Silva em turmas do 2º e 3º anos do Ensino Médio do Colégio Estadual do Campo Filinto Justiniano Bastos. Com a contribuição do professor Rafael Mariano de Souza e da monitora do Educa Mais Brasil Vanilda de Melo Barreto, a professora desenvolveu, na disciplina Saúde Integral, Agricultura e Soberania Alimentar, um trabalho com as plantas medicinais que, além da parte teórica, realizou uma pesquisa de campo e a montagem de uma horta em formato de mandala na escola.
De acordo com a professora, a escola, que apesar de ficar na sede da cidade de Seabra, na Chapada Diamantina, é certificada como escola do campo. Em torno de 90 a 95% dos alunos são de comunidades rurais, algumas delas quilombolas, em cujas práticas integrativas de saúde está o uso das ervas e plantas. Dessa forma, escolheu trabalhar os saberes tradicionais em relação aos cuidados com a saúde, ainda que essa abordagem não seja tão comum nos currículos.
As aulas teóricas versaram sobre a importância da valorização dessa tradição do uso das plantas medicinais e o saber popular, pensando nos mais velhos como detentores desse conhecimento e chamando atenção para a perda gradual deste tipo de conhecimento de geração em geração.
Os estudantes realizaram pesquisa com os avós, os pais e vizinhos para entender como as famílias utilizam as plantas medicinais, quais as plantas mais utilizadas, quais são cultivadas por cada família e para que são indicadas. No intuito de chamar a atenção para a importância do saber popular, a docente ajudou os meninos e meninas a traçarem um paralelo entre o que os pais e avós sabiam sobre as plantas medicinais e o conhecimento que eles mesmo tinham.
O passo seguinte foi a construção da horta. O colégio tinha um espaço grande obsoleto onde fizeram a horta em formato de mandala, usando garrafas pet para delimitar os canteiros que foram preenchidos com a cultura de diversas plantas, como alecrim, babosa, capim santo, arruda, boldo, losna, hortelã, erva-cidreira, calêndula, milho, poejo, funcho, guaco, mastruz, entre outras, todas recebidas das famílias pesquisadas.
E todo esse processo foi apresentado pelas estudantes Amanda Gregório Alves e Sabrina Araújo de Souza em Salvador, na 15ª Feira Baiana da Agricultura Familiar e Economia Solidária. O tema da sala em que as estudantes foram selecionadas foi “Agricultura familiar e sua importância para a sociobiodiversidade e sistemas alimentares resilientes”. Dentre trabalhos de graduação universitária, pós-graduação e doutorado, elas levaram a experiência do projeto Farmácia Verde: sustentabilidade e consciência ambiental representando o ensino básico no evento.
As meninas são dos povoados de Baixio da Aguada e Olhos d’Água de Antônio Francisco e representaram com tranquilidade a escola e os saberes que fazem parte da tradição das suas comunidades. Além disso, visitaram os stands da feira e conheceram iniciativas de outros estados.
A professora Silvana é licenciada em educação do campo com habilitação em ciências da natureza e especialista em agroecologia e tecnologia social na educação do campo e ressalta a importância da participação dos estudantes nesse tipo de evento. “Nossos alunos produzem muito e essas produções deles precisam ser visibilizadas. Nesse espaço de trabalho científico eles aprendem muito, desenvolvem oralidade, escrita, além de aguçar a curiosidade acerca do mundo acadêmico. Tendo acesso a esse espaço, a curiosidade e a vontade deles de sair do Ensino Médio e cursar uma graduação é bem maior do que os que não têm esse acesso”, destacou.
Ananda Azevedo | Fotos: Divulgação Silvana Souza da Silva e Keu Silva