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Iraquara: documentário sobre o Terno de Reis divulga novas exibições e promove o 3º Encontro de Ternos de Reis

“Com quantas estrelas se cria um céu aberto: Terno de Reis de Tonho de Lau” será exibido em escolas e comunidades até o lançamento online.

Lançado oficialmente no Dia de Reis, 6 de janeiro, na comunidade de Cajazeiras, em Iraquara, na Chapada Diamantina, o filme “Com quantas estrelas se cria um céu aberto: Terno de Reis de Tonho de Lau” seguirá o seu circuito de divulgação e exibições a partir desta sexta-feira, 17, até o dia 31 de janeiro, quando será disponibilizado para o público de forma online, por meio da plataforma de vídeos Youtube.

Nesta sexta, às 19h, será a vez do Colégio Estadual de Tempo Integral de Iraquara (CETII) receber a exibição do documentário, oferecerá à comunidade escolar um pouco mais sobre a cultura e das tradições da região, aspectos tão importantes para a formação identitária dos estudantes.

Uma grande celebração marcará a exibição que se seguirá, no dia 19, domingo, às 17h, quando o filme será apresentado no 3° Encontro dos Ternos de Reis de Iraquara, evento em que participarão, além do terno de Tonho de Lau, outros grupos de reisado da região, e tem realização da Prefeitura Municipal de Iraquara com a produção do filme em parceria.

No domingo seguinte, 26, será na comunidade de Iraporanga, às 19h no Casarão da Cultura, e para o grande público, será disponibilizado no Youtube, às 18h da sexta, 31, no canal @acasadetupa.

“Com quantas estrelas se cria um céu aberto: Terno de Reis de Tonho de Lau”

“Com quantas estrelas se cria um céu aberto: Terno de Reis de Tonho de Lau” é um documentário dirigido por A Sol Kuaray, que mergulha na tradição dos Ternos de Reis da região através da lente única de Tonho de Lau, mestre da cultura popular e morador da cidade de Iraquara, na Chapada Diamantina.

O filme, com 26 minutos de duração, acompanha o processo de criação e celebração do Terno de Reis, um festejo tradicional que ocorre anualmente no Dia de Reis, 6 de janeiro. A história do terno é narrada para uma criança, neto de Tonho de Lau, que, sob a orientação do mestre, aprende a importância dessa tradição que é passada de geração a geração por meio da oralidade.

O documentário explora todo o processo de materialização desse Patrimônio Cultural Imaterial, desde a confecção das indumentárias até a realização do festejo, revelando como a tradição é preservada e vivenciada em uma comunidade rural da Bahia. A obra também serve como uma plataforma para valorizar e divulgar a cultura periférica e rural, destacando a importância do Terno de Reis como elemento de identidade local e resistência cultural.

O filme foi lançado na casa do próprio Tonho de Lau em Cajazeiras, com programação que contou com a participação da equipe do filme e uma breve apresentação dos músicos do terno.

Este documentário, com uma linguagem audiovisual inovadora, oferece uma janela única para o coração da Chapada Diamantina e seu patrimônio imaterial, convidando o público a se conectar com a tradição, a história e as pessoas que tornam possível a criação desse “céu aberto” de estrelas culturais. Por meio do contato com essas expressões artísticas tradicionais é possível promover a reflexão sobre a importância da preservação cultural e a transmissão intergeracional da sabedoria popular.

O filme é uma realização da A Casa de Tupã, com produção da EQV, direção e roteiro de A Sol Kuaray, direção de fotografia, montagem e edição de Iago Aquino e elenco da localidade. As filmagens foram realizadas nos poovoados e comunidades de América Nova, As Lagoas, Baixa do Mucambo, Cajazeiras, Calumbi I e II, Caatinguinha, Mundo Novo, Queimada dos Profiro, Quixaba, Santa Clara, Zabelê, Iraquara, Chapada Diamantina, Bahia.

A diretora

A Sol Kuaray é uma artista multifacetada de Iraquara, que aborda em sua poética as relações nos percursos e histórias que conectam à leitura de um corpo-território. Mestre em Artes Visuais (UFMG), é também Bacharel em Artes Plásticas (UFBA). Busca na conexão dos saberes tradicionais o caminho de retomada ancestral do povo Payayá, relacionando-os aos processos criativos e nas denúncias às violências ao meio natural pelos sistemas hegemônicos. Utiliza de diversas linguagens, ao estabelecer um sentido arte-vida, que se traduz na performance, instalações, pinturas e plantio. Em 2013, fundou a Associação de Arte Cultura e Meio Ambiente A Casa de Tupã, onde realiza diversos encontros culturais e
práticas de valorização da cultura popular, tradicional e ambiental no município.

Foto: Deju Moreira

A História do Terno de Reis de Tonho de Lau

O Terno de Reis de Tonho de Lau tem uma história profundamente enraizada na tradição e na cultura popular da Chapada Diamantina, mais especificamente no município de Iraquara, Bahia. Fundado em 1974 pelo Sr. Claudomiro José Ferreira, conhecido como Lau, o Terno de Reis ganhou seu nome em homenagem à sua liderança e devoção. Porém, a história do Terno de Reis tomou novos rumos em 1975, quando Lau faleceu. Antes de partir, em um sonho, ele pediu ao seu filho Antônio José Ferreira, conhecido como Tonho de Lau, que seguisse com a tradição e continuasse a honrar o Menino Jesus, como geralmente é feito todos os anos durante as celebrações do Dia de Reis.

Tonho, nascido em 12 de setembro de 1940, em Iraquara, e filho de Maria das Virgens Neves e Claudomiro José Ferreira, assumiu a responsabilidade pela manutenção do Terno de Reis no ano seguinte, quando tinha 35 anos. Desde então, ele se dedicou integralmente à continuidade da tradição, que envolve a visitação das casas dos devotos entre os dias 24 de dezembro e 6 de janeiro, levando consigo música, dança e orações em celebração ao nascimento de Jesus Cristo.

Apesar das inúmeras dificuldades financeiras e de saúde que enfrentou ao longo dos anos, Tonho manteve sua devoção e o compromisso com o Terno de Reis, sacrificando-se para garantir a união do grupo e a manutenção dessa tradição cultural. A vida de Tonho não foi fácil; como agricultor sertanejo, ele frequentemente enfrentava a perda de sua colheita devido à seca e ao sol implacável. Por isso, ele viajava anualmente para São Paulo durante o período de entre-safra, onde trabalhava como servente de pedreiro nas construções de prédios e casas, para garantir o sustento de sua família.

Tonho de Lau é, acima de tudo, um homem de família. Em sua casa, sempre cheia de parentes e amigos, ele é um pai dedicado e um avô carinhoso, que transmite amor e sabedoria para as novas gerações. Sua casa e sua vida são um reflexo de sua devoção à cultura local, e sua liderança no Terno de Reis é marcada pela perseverança, pela abnegação e pelo desejo de manter viva a alegria e a beleza dessa manifestação popular. Mesmo com poucos recursos financeiros, Tonho compra instrumentos musicais, materiais de armarinhos, como fitas e flores, e muitas vezes é ele junto aos demais que enfeitam os chapéus dos “reiseiros” (membros do grupo), garantindo que a tradição seja celebrada com brilho e esplendor.

Hoje, com 47 anos de existência, sendo 46 deles sob a liderança de Tonho de Lau, o Terno de Reis de Iraquara se mantém como o mais antigo e um dos mais respeitados grupos de Reisado da região. Mesmo enfrentando limitações de saúde, Tonho continua sendo um baluarte da cultura de Iraquara e do Brasil, e sua história é uma verdadeira celebração da resistência cultural e da preservação das tradições populares. Para a comunidade, o Terno de Reis de Tonho de Lau é sinônimo de alegria, música e união, e a cada ano, a população reverencia e aplaude o mestre por seu incansável trabalho de manter viva essa manifestação cultural que representa a força e a identidade do povo sertanejo.

Com informações da assessoria | Foto destaque: Tarcísio Mendes e Galeria: Iago Aquino e Tarcísio Mendes

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