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Encontro ‘Mulheres em movimento: a energia da Chapada’ reúne dezenas de mulheres na comunidade da Bocaina, em Piatã

Comunidade quilombola na zona rural de Piatã é símbolo de resistência contra o avanço da destruição causada pelos grandes projetos de mineração na Chapada Diamantina.

Em meio à tantos eventos que têm a transição energética como tema central, em um país com a responsabilidade de sediar, em 2025, a COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) e em um cenário desastroso, tanto na questão socioambiental quanto na esfera política, o que as mulheres têm a compartilhar umas com outras e com o mundo? 

Entre certezas e previsões, o fortalecimento do diálogo e das ações vem se consolidando por meio dos coletivos que estão nas linhas de frentes das iniciativas para cuidar da nossa casa comum: os povos tradicionais e as comunidades afetadas pelos grandes projetos de agronegócio, energias alternativas e mineração.

Especialmente as mulheres vêm assumindo um papel fundamental de, além de levantar a bandeira da conscientização, lutar pela preservação da natureza e dos modos de vida que sustentam a produção de alimentos, o cuidado com a terra, a água e a soberania dos territórios. O que esses corpos ancestrais testemunham em perdas e vislumbram em possibilidades para um novo mundo?

Essa foi a pergunta que pautou o diálogo e as atividades, nos dias 7 e 8 de março, do Encontro ‘Mulheres em movimento: a energia da Chapada’, em Piatã e na Comunidade Quilombola da Bocaina, na Chapada Diamantina.

O encontro foi realizado em alusão ao Dia Internacional da Mulher, por iniciativa do Observatório dos Conflitos Ambientais da Chapada Diamantina (OCA) com o apoio do Fundo Casa Socioambiental, da Comissão Pastoral da Terra e da Universidade do Estado da Bahia, como parte do Projeto A Guerra de Oyá – Comunicação, Mulheres e Transição Socioenergética.

Dentre as atividades, movimento, cuidado e mobilização. Com leveza, respeito, representação e diálogo, o encontro tratou do enfrentamento de mulheres em comunidades tradicionais afetadas por empreendimentos de energia renovável, falou sobre transição energética e, por meio de um diálogo propositivo, contribuiu para fortalecer o papel de cada uma na promoção de uma justiça que não é apenas climática, é a única solução para que comunidades inteiras possam continuar existindo e sustentando o estado da Bahia com água e comida. 

Como forma de democratizar o acesso à discussões sobre todas essas temáticas, as primeiras atividades foram realizadas na feira de Piatã, em espaço aberto à participação popular, seguido por um dia inteiro de atividades na comunidade quilombola da Bocaina, zona rural da cidade, das quais participaram em torno de 60 mulheres de 15 municípios da Chapada e outros territórios de identidade. Dentre as cidades chapadeiras, estavam representadas Iraquara, Seabra, Piatã, Morro do Chapéu, Ibitiara, Novo Horizonte, Lençois, Rio de Contas, Boninal e Palmeiras.

Alinhavada nesse encontro de potências, foi realizada a gravação do videoclipe da música  “Salve a Chapada Diamantina”, projeto da multiartista e compositora Nevolândia, em parceria com John Belik, Morris, Kayla Barreto e Milena Brandão.

Mulheres são referências

Professora na Universidade do Estado da Bahia, Gislene Moreira participou do encontro e contou que a demanda partiu dos coletivos de mulheres. “A gente tem percebido como o pensar a energia, a transição energética, os mega projetos desde a perspectiva de gênero traz recortes muito interessantes tanto das mulheres como sendo as principais vítimas das violências que esses mega projetos trazem como de soluções inovadoras para o problema da transição”, analisou. 

“As mulheres são cuidadoras dos seus territórios e não cuidam só da família, elas têm a vida como princípio”, explicou a professora ao acrescentar que são as mulheres que normalmente estão preocupadas, por exemplo, com a questão da água ou com o cuidado com o futuro da juventude e por isso a importância de tratar esses temas entre o público feminino. 

Durante os dois dias, as mulheres e suas iniciativas foram referências umas para as outras a  partir das experiências de cada comunidade. Dentre tantas iniciativas compartilhadas, uma certeza: a vivência entre mulheres traz a força de quem carrega e precisa relembrar o sagrado aos governantes do planeta.

Ananda Azevedo | Fotos: Ananda Azevedo

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