Ariosvaldo é filho do dono da fábrica “Vardo dos Fogos”, palco do maior acidente de trabalho da história da Bahia, ocorrido em 1998, em que 64 pessoas morreram. Gerente da rede clandestina também foi preso durante a operação.
Ariosvaldo Prazeres, um dos filhos do dono de uma fábrica de fogos de artifício que explodiu há 27 anos, e que matou 64 pessoas, em Santo Antônio de Jesus, foi preso na manhã de quarta-feira (13). Há suspeitas de que ele comandava uma produção clandestina no mesmo município, no recôncavo baiano. As informações são do G1.
Além dele, Pedro Marcos Peleteiro de Araújo, apontado como gerente da rede clandestina, também foi preso, após ser flagrado fumando dentro de um imóvel totalmente tomado por caixas de fogos prontos para comercialização, localizado no bairro Maria Preta. A fábrica foi interditada. Ambos foram levados à Delegacia de Polícia Civil, onde foram ouvidos e liberados.
Segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT), os artefatos estavam sendo produzidos à base de pólvora, sem autorização do Exército Brasileiro, em uma fazenda na zona rural de Santo Antônio de Jesus. A operação resultou nos seguintes números:
- 2.880.791 unidades de fogos de artifício apreendidas
- 61 quilos de bombas a granel, armazenadas em sacos plásticos
- 3 locais de produção clandestina interditados
- 9 endereços fiscalizados pelas equipes
- 4 caminhonetes carregadas com materiais explosivos
- 1 caminhão-baú utilizado para transporte do material à pedreira onde será destruído
O MPT recebeu denúncias de locais onde estariam sendo estocadas matérias-primas utilizadas na produção ilegal, além de pontos onde estão sendo fabricados os artefatos.
Um dos imóveis interditados funcionava como fábrica em um pequeno sítio na zona rural, com máquinas para embalagem dos fogos, e estava registrado em nome da esposa de Gilson Prazeres, irmão de Ariosvaldo. Outros dois pontos usados pelo grupo, uma fazenda e uma residência urbana, também foram fechados.
A fiscalização contou com a participação do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Polícia Civil, do Departamento de Polícia Técnica, do Exército e da Superintendência Regional do Trabalho (SRT-BA), órgão do Ministério do Trabalho e Emprego.
O material apreendido será destruído em uma pedreira na região. Conforme a Polícia Civil, Ariosvaldo Prazeres foi encaminhado à Delegacia Territorial de Santo Antônio de Jesus e segue à disposição da Justiça.
Produção não foi interrompida após acidente em 1998
Esta rede tem ligação direta com a família de Osvaldo Prazeres Bastos, conhecido como Vardo dos Fogos, dono da fábrica que explodiu em 11 de dezembro de 1998, também em Santo Antônio de Jesus, matando 64 pessoas. Mulheres e crianças foram as maiores vítimas da explosão na indústria. A tragédia é considerada o maior acidente de trabalho da história da Bahia. Na ocasião, cerca de 1,5 tonelada de pólvora estava armazenada irregularmente.
Após o acidente, os filhos de Osvaldo, especialmente Gilson e Ariosvaldo, deram continuidade à produção de fogos de forma clandestina, espalhando as atividades por diversas propriedades rurais e residências, com o objetivo de burlar a fiscalização.
Segundo o MPT, Gilson lidera um grupo econômico familiar que atua informalmente com diversas ramificações, incluindo empresas como Fogos Boa Vista, Fogos Import e Fogos São João. Em agosto de 2024, a Justiça do Trabalho concedeu uma liminar proibindo Gilson e suas empresas de produzir, armazenar, transportar e comercializar fogos de artifício, sob pena de multa de R$ 200 mil por item descumprido.
Apesar disso, novas operações revelaram que as atividades ilegais continuaram. Em dezembro de 2023, Gilson foi preso em flagrante durante uma fiscalização. Em outra inspeção, no ano seguinte, foi encontrada produção clandestina em uma chácara de sua propriedade.
Maior acidente de trabalho da história da Bahia
Em 2020, o Brasil foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos pela morte das 64 pessoas, a maioria mulheres e crianças negras, na explosão da fábrica.
A investigação aponta que, após tentativas de responsabilização pela tragédia de 1998 e por outros acidentes menores, o grupo optou pela informalidade deliberada, visando escapar dos rigores da lei e ampliar lucros. A estratégia inclui a fragmentação da produção em pequenas estruturas e o uso de CNPJs em nome de parentes para encobrir as operações.
A procuradora do MPT Juliana Corbal destacou que os fogos apreendidos são completamente ilegais, pois não havia autorização para a compra de pólvora nem respeito às normas de segurança do trabalho.
A juíza Adriana Manta, da 24ª Vara do Trabalho de Salvador, reforçou a validade da liminar e determinou que o valor das multas seja cobrado judicialmente, a partir das novas irregularidades identificadas.
Fonte: G1 | Foto: Reprodução MPT