Série de reportagens terá quatro episódios; o primeiro denuncia a morte de uma criança em Piatã.
A Folha de São Paulo acaba de lançar uma série de reportagens sobre os impactos da transição energética na Chapada Diamantina. A partir do que chamou de “pesadelo para a maioria das comunidades tradicionais, pesquisadores e ativistas da região”, o periódico vai analisar o que vem acontecendo por trás da implantação das empresas de energia alternativa – sobretudo eólica e solar – no que diz respeito aos impactos ambientais e à destruição dos modos de vida das comunidades que vivem na Chapada.
Já vem sendo amplamente divulgado pelo governo do Estado da Bahia o interesse pelo recebimento e ampliação desses empreendimentos e a liderança da Bahia na geração de energia renovável. O que não está claro são os reais impactos no meio ambiente, na flora, na fauna, nos recursos hídricos e na vida das pessoas. E a Chapada Diamantina, em cujo território estão 43% dos empreendimentos da Bahia, segundo os dados da Folha, segue ameaçada por esse avanço desenfreado.
A chegada abrupta das empresas de energia renovável, por um lado, representa a necessidade urgente do país em ampliar a matriz energética para redução da emissão de carbono e fortalecer o mercado de carros elétricos. Por outro lado, consolida um modelo totalmente desrespeitoso com o meio ambiente e as comunidades tradicionais, povos originários, comunidades ribeirinhas e pesqueiras ou simplesmente moradores de povoados em zonas rurais próximas das serras. Sem diálogo e com mínima interferência dos governos municipais e estadual, a Chapada fica totalmente vulnerável à palavra dessas grandes empresas internacionais, que pouco se importam com a preservação das localidades onde fincam suas usinas eólicas ou suas placas solares.
Pouco se importam, também, em cumprir promessas de geração de renda, estabilidade econômica e benfeitorias para a população, ofertas abandonadas após a instalação das centenas de turbinas que, em vez de benefícios, deixam um rastro de problemas. Segundo a Folha, a destruição, além dos problemas ambientais, engloba problemas de saúde, agravamento de crises respiratórias, edificações e casas completamente comprometidas pelas rachaduras, graves problemas psicológicos devido à proximidade das moradias com as turbinas, perda das fontes de renda, além de problemas relacionados à agricultura e criação de animais, dificultadas tanto pela não rara escassez dos mananciais de água, quanto pela poeira espessa que passa a circular nas comunidades.
O primeiro episódio da série, que trará quatro reportagens especiais, já saiu, e trata da morte do menino Paulo Gustavo, que foi soterrado pelo barranco de uma obra de contenção de água da chuva feita pela empresa de energia eólica Pan American Energy para escoar a lama da estrada de barro aberta para passar os equipamentos das turbinas. Paulo e um amigo brincavam nas proximidades do barranco, quando a terra despencou soterrando os dois, um até a cintura e Paulo completamente, o que causou a sua morte.

A estrada segue aberta, ainda que já tenha havido protestos e a promessa da empresa em fechá-la após a construção das torres. Um agricultor conhecido da família foi quem resgatou as crianças e conta que até hoje revê a cena mentalmente. Já a mãe de Paulo conta que a morte do filho é uma dor da qual nunca se recuperou. A empresa não prestou socorro, nem condolências, apenas se limitou a dizer que o fato e a estrada não têm relação. Nos três dias seguintes, como num luto às avessas, não houve trânsito da empresa no local. No quarto dia, funcionários instalaram um quebra-molas em frente ao local onde Paulo morreu. Além da lombada, apenas uma cruz improvisada pela comunidade e a sandália do menino servem de testemunha da brutalidade de uma morte tão precoce.
Confira a reportagem completa: https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2025/06/comunidade-liga-obra-de-eolica-na-bahia-a-morte-de-crianca-e-rachadura-de-casas.shtml
Ananda Azevedo / Fonte: Folha de São Paulo | Foto: Ananda Azevedo
O assunto foi comentado no JDM da última quarta-feira, 4 de maio.