Atitudes individuais podem mudar o mundo?
Sim, a data de hoje marca o Dia Mundial do Meio Ambiente desde 1974. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas para reforçar a importância do meio ambiente e – atenção – a necessidade de ações coletivas globais para reverter os graves problemas ambientais do planeta.
No entanto, ainda que tenhamos dados, números, pesquisas e uma data para ninguém esquecer que nossa casa maior sofre os efeitos da degradação acelerada, os problemas continuam crescendo. Os desafios são urgentes e complexos. Degradação, perda da biodiversidade, transformação climática e a escassez dos recursos naturais são apenas alguns dos pontos. As mudanças no clima dão seu recado com a mesma violência da destruição a que o planeta está sendo submetido: eventos climáticos extremos, alguns deles causando centenas, milhares de mortes. O futuro se anuncia sombrio diante do avanço da degradação.
E eu podia fazer hoje um pouco mais do mesmo e falar que ações individuais podem mudar essa realidade. Você aí, que não recicla seus resíduos, que vai para o trabalho de carro diariamente, que liga o ar condicionado para dormir, ou que se revela um consumista pleno de não biodegradáveis, eu poderia atribuir a você – ou nós – essa responsabilidade. E ela é nossa, coletiva.
Mas indo um pouco além, alguns dados mostram que a responsabilidade não pode ser repartida igualmente por todos. Um levantamento do InfuenceMap, referência no estudo e análise do meio ambiente, publicado no início desse ano, constatou que 80% da poluição causada pela queima de combustíveis fósseis entre os anos de 2016 e 2022 foi produzida por 57 empresas. Nem sei se precisa dessa explicação adicional, mas apenas 57 empresas causaram 80% dessa forma de poluição em todo o mundo.
Antes de colocá-las sozinhas como vilãs do clima, o que de fato são, também acrescento o fato de que 65% das estatais e 50% das empresas privadas do mundo continuaram expandindo a queima de CO2, mesmo que muitos países tenham assinado o acordo de Paris, que determina um limite para o aumento da temperatura global em 1,5º. A China, por exemplo, soltou os freios da poluição ambiental e, no período analisado, suas estatais responderam por 25,79% da emissão do gás. 58 das 100 maiores produtoras de carbono aumentaram a sua produção e os Estados Unidos, claro, é o país que tem mais empresas nessa lista.
E não vou deixar o Brasil de fora: num ano que sediará a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP 30, acaba de aprovar no Senado Federal um projeto de lei (PL) que, não por acaso, ficou conhecido como PL da Devastação. Isso porque afrouxa de maneira significativa os processos de licenciamento ambiental, visando facilitar para empresas e empreendimentos com potencial de poluição e destruição ambiental. E mais, está correndo para aprovar a exploração na margem equatorial de – adivinha – um combustível fóssil, o petróleo, cuja queima libera o quê? CO2, exatamente, gás que aumenta o efeito estufa e, consequentemente, a temperatura global.
Então, volto à pergunta sobre o meio ambiente que eu trago no título dessa coluna. É mais do que importante fazer eventos em escolas, publicar iniciativas pontuais de pequena escala, incentivar nossos amigos e vizinhos a adotarem alternativas mais sustentáveis de vida, além de incluir essa pauta nas discussões de associações, condomínios e na educação das novas gerações. Se você é uma dessas pessoas abençoadas que consegue fazer a sua parte, siga.
Mas é ainda mais importante prestar atenção aos governantes, cobrar dos seus representantes eleitos uma postura de defesa do meio ambiente e da vida e, na hora de comprar, lembrar de priorizar as empresas que adotam posturas adequadas em relação à preservação.
Ananda Azevedo | Foto de Marek Piwnicki/pexels