Nevolandia Lima, já conhecida na Chapada Diamantina, apresentou o videoclipe da música “Reforma Feminista” produzido integralmente por estudantes, simbolizando o protagonismo juvenil na cerimônia de conclusão do programa.
Por Érica Araújo
Na última terça-feira, 29, o Instituto Federal da Bahia (IFBA) campus Seabra foi palco da cerimônia de formação dos estudantes dos cursos de Agente Cultural, Editor de Vídeo e Fotógrafo, oferecidos pelo Programa Manuel Querino (PMQ). A noite de celebração foi marcada por um momento especial: a apresentação do clipe inédito “Reforma Feminista”, da multiartista seabrense Nevolandia Lima, totalmente idealizado, roteirizado e produzido pelos alunos da turma de Edição de Vídeo, que em breve estará disponível no canal da artista no Youtube.
O Programa Manuel Querino, realizado por meio de parceria entre o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e o IFBA, atende às cidades de Seabra, Lençóis e Iraquara, ofertando cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC) voltados à inclusão produtiva e ao fortalecimento das expressões culturais locais. Com foco em jovens e trabalhadores em situação de vulnerabilidade social, o programa tem como missão qualificar, gerar oportunidades e democratizar o acesso ao conhecimento.


O clipe “Reforma Feminista” é fruto direto dessa proposta. Com forte apelo ao empoderamento feminino e poético, a música de Nevolandia denuncia a forma como as mulheres, sobretudo as mulheres negras, são retratadas na música contemporânea, além de prestar homenagem a intelectuais negras como Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro, Grada Kilomba, Conceição Evaristo e Carolina Maria de Jesus.

“Através do curso, materializamos o clipe da minha música ‘Reforma Feminista’. Todo o processo foi muito importante para mim e para a turma. O projeto nos uniu, criou laços e abriu portas. Saio com mais essa formação, uma obra linda, novas amizades e muitos sonhos compartilhados”, contou Nevolandia, emocionada durante a cerimônia.
Protagonismo estudantil e a arte como ferramenta de transformação social
Durante a produção do clipe, todas as etapas do audiovisual foram desenvolvidas – desde o roteiro, figurino e até a edição final – sendo totalmente executada pelos próprios estudantes como trabalho de conclusão de curso da turma de Edição de Vídeo. Para Lana Maria Ribeiro Miranda, 25 anos, uma das diretoras e também roteirista da obra, a experiência foi transformadora: “Foram três meses de muitos desafios, mas com persistência conseguimos concluir. O clipe foi a experiência mais marcante da minha vida. Mais do que um trabalho técnico, foi uma vivência coletiva, de troca e afeto. A música da Nevolandia nos tocou e nos inspirou a entregar o nosso melhor”.

A estudante também destacou o apoio do professor Deivid Novaes, que orientou o grupo durante todo o processo criativo, reforçando a importância da formação técnica aliada à sensibilidade social e artística. O Programa Manuel Querino homenageia o legado do baiano Manuel Raymundo Querino (1851–1923), um dos primeiros intelectuais negros do Brasil, reconhecido por sua atuação como pintor, escritor, abolicionista e pioneiro nos registros antropológicos da cultura afro-baiana. O programa carrega seu nome como símbolo de resistência, educação e transformação social.
Além do lançamento do clipe “Reforma Feminista”, a cerimônia também contou com a Exposição “A Estética da Solidão”, realizada pelos concluintes do curso de Fotógrafo. A mostra foi fruto das atividades práticas desenvolvidas ao longo dos três meses de formação e reuniu imagens que abordam os impactos das redes sociais nas relações humanas, na autoimagem e na comunicação. A proposta teve curadoria artística da professora Dayanne Pereira e curadoria técnica do professor Jonieudes Ferreira.
“A exposição teve como objetivo refletir sobre os limites entre conexão e dependência na era digital. Cada imagem traz não só a estética individual dos alunos, mas a experiência coletiva da turma durante o curso”, explicou a estudante Maria Michela Bosetti, de 27 anos, artista visual e fotógrafa da cidade de Seabra. Para ela, a oportunidade de expor sua experiência publicamente foi um marco pessoal e profissional muito simbólico: “Essa experiência foi sobre autoconfiança, mas também tantas outras coisas: coletividade, empatia, profissionalismo e conhecimento técnico. Digo isso pois é com autoconfiança que conseguimos nos posicionar como profissionais, reconhecer nosso potencial e nos tornamos melhores do que éramos antes do programa, sem a interação e o ensinamento compartilhado dos professores, dos alunos, da gestão e de toda e equipe por trás, me reconhecer como uma fotógrafa não seria possível”.
A cerimônia de encerramento também foi marcada por um discurso emocionado do coordenador geral do PMQ, Paulo Ricardo, que ressaltou o valor transformador da educação aliada à arte e à cultura. “Quando aceitei coordenar o programa, sabia da responsabilidade. Vocês plantaram uma semente ao escolherem estar aqui, e hoje estamos colhendo os frutos. Cada diploma entregue é uma chave – uma chave que abre portas e gera impacto real nas comunidades de onde vocês vêm”, afirmou.
Ele também destacou a diversidade das turmas, que contaram com estudantes de diferentes contextos, incluindo quilombolas e moradores de zonas rurais. “Manuel Querino foi um visionário, e hoje vocês seguem esse legado ao documentar, criar e transformar. O mundo precisa da arte e do olhar de vocês. A formatura não é o fim, e sim uma chave que vai fazer a diferença por onde vocês estiverem, sigam criando, documentando, sigam ensinando o mundo, pois o mundo precisa de mais arte, mais cultura, mais olhares, como o de vocês”,completou.
O sucesso do videoclipe “Reforma Feminista” e da Exposição “A Estética da Solidão” marca não apenas o encerramento de um ciclo formativo, mas também o início de novas jornadas criativas e profissionais para os estudantes do Programa Manuel Querino. As obras apresentadas reafirmam o potencial transformador proporcionado pela educação pública, aliada à cultura e ao protagonismo jovem na região da Chapada Diamantina.
Por Érica Araújo | Fotos: Acervo pessoal e Jonieudes Ferreira