Exibições ocorreram neste sábado, 6, durante os primeiros dias de realização do festival, que vai percorrer, ao todo, 14 cidades da Chapada.
Nesse sábado, 6, a cidade de Lençóis foi palco de uma celebração especial da sétima arte e da consciência ambiental. A Casa e Memorial Afrânio Peixoto, um dos espaços culturais mais emblemáticos da região, abriu suas portas para exibir filmes do Festival de Cinema Ambiental da Chapada Diamantina (Facine) reunindo moradores, visitantes e cineastas locais em uma atmosfera de reflexão e troca.
Durante as exibições, o público teve a oportunidade de assistir a produções que abordam temas que se conectam diretamente com a manutenção das memórias e identidades como fator determinante para a preservação do território e das comunidades tradicionais.
Os filmes apresentados foram “Dona Lili”, curta-metragem dirigido por Michele Nascimento rodado em Lençois, “Confluências”, dirigido por Dácia Ibiapina, de Brasília, e o baiano “Arte Quilombola: o Legado Continua”, de Claudia Chávez.
O destaque ficou por conta da presença de diretoras da própria cidade de Lençóis, que participaram das sessões e conversaram com o público sobre seus processos criativos e o papel do cinema como ferramenta de transformação social. Ao final da sessão, as diretoras dividiram o espaço de compartilhamento com o líder religioso lençoense Damaré, pai de santo que conduz as atividades religiosas do terreiro localizado na comunidade do Curupaiti, o Peji da Pedra Branca.
Educação Griô e cinema em Lençóis
Durante as atividades, público e componentes da mesa ressaltaram o papel importante do Grãos de Luz e Griô, ponto de cultura existente na cidade, cujo trabalho envolve formação de jovens em diversas esferas artísticas, incluindo o audiovisual, por onde boa parte dos jovens da cidade passou.

O processo formativo do Grãos de Luz e Griô vem possibilitando aos jovens da Chapada a possibilidade de uma educação que contemple os interesses artísticos pessoais ao mesmo tempo em que também possibilita a formação profissionalizante.
De acordo com Lílian Pacheco, educadora, coordenadora pedagógica e fundadora do Grãos de Luz e Griô, além de criadora da pedagogia griô, é muito importante para o território movimentos artísticos culturais que valorizem o espaço e artistas do interior. “O Facine tem uma curadoria que tem muita relação com a nossa crença na questão de território, identidade, ancestralidade e memória, então fico muito feliz de existir festivais honrando essa sociedade possível em que a educação, através da arte, tenha identidade e ancestralidade como centro para afirmar as pessoas e garantir um conhecimento sobre sua história.”
A educadora também comentou a importância de dar espaço ao audiovisual do interior da Bahia. “Em cidades pequenas como Lençois e outras da região em que o Facine circula,muitas vezes o afastamento das políticas públicas nessa área da arte cria um vazio na formação política, cultural dos cidadãos e cidadãs. Termos esses movimentos artísticos e culturais que valorizam o espaço do interior, que abre essa dimensão da arte para as pessoas ajuda a se reconhecerem e verem no espelho a possibilidade de trilhar esse caminho que é muito difícil”, completou.


Festival itinerante
O Festival de Cinema Ambiental da Chapada Diamantina está apenas começando. Com uma proposta itinerante, o evento vai percorrer mais 10 cidades da região ao longo da próxima semanas, levando filmes, debates e oficinas para comunidades diversas. A iniciativa busca fortalecer o vínculo entre cultura e meio ambiente, promovendo o engajamento da população em torno de questões urgentes como conservação dos biomas, mudanças climáticas e sustentabilidade.
Casa Afrânio Peixoto: palco de memória e resistência
A escolha da Casa e Memorial Afrânio Peixoto como local de exibição reforça o papel do espaço como guardião da história e da cultura local. O memorial tem se consolidado como ponto de encontro para manifestações artísticas e debates contemporâneos.
Com o sucesso das primeiras sessões, Lençóis reafirma sua vocação como polo cultural da Chapada Diamantina — onde o passado e o futuro se entrelaçam por meio da arte e da consciência coletiva.
O festival segue sua rota pelas cidades da Chapada. A programação completa pode ser acompanhada pelas redes sociais do evento @facinechapada e no site www.facine.art.br.
O projeto tem patrocínio da Neoenergia Coelba, do Instituto Neoenergia e do Governo do Estado, através do Fazcultura, Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda.
Ananda Azevedo | Fotos: Kallyane Nery