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Caatinga concentra 62% das usinas solares do Brasil, mas perde 14% da vegetação nativa em 40 anos

Bioma exclusivamente brasileiro lidera transição energética, mas sofre pressão crescente da agropecuária, queimadas e mais recentemente, da expansão das usinas fotovoltaicas.

A Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, tem se consolidado como protagonista da transição energética no país. De acordo com levantamento da rede MapBiomas, em 2024 o bioma abrigava 62% das áreas de usinas fotovoltaicas do Brasil, somando 21,8 mil hectares dos 35,3 mil instalados no território nacional. Só em Minas Gerais estão 26% dessas áreas (5,6 mil hectares).

O avanço da energia solar reflete o alto potencial de radiação da região. No entanto, grande parte das áreas convertidas para usinas fotovoltaicas substituiu vegetação nativa: 52,6% (11,4 mil hectares) eram formações savânicas e florestais, enquanto 35% (7,5 mil hectares) eram pastagens.

Transições de cobertura e uso da terra no bioma Caatinga para usinas fotovoltaicas entre 2016 e 2024 por estado

Segundo o estudo, que analisou a cobertura e o uso da terra entre 1985 e 2024, a Caatinga sofreu a perda de 9,25 milhões de hectares de áreas naturais no período, o equivalente a 14% da sua cobertura original. Hoje, 59% do bioma (51,3 milhões de hectares) ainda mantém vegetação nativa, sobretudo formações savânicas.

A pressão da agropecuária é o principal vetor de transformação: mais de um terço da Caatinga (37%) já está ocupado por atividades do setor. A pastagem responde por 24,7% do bioma e dobrou de área desde 1985, enquanto a agricultura foi o uso que mais cresceu proporcionalmente, com expansão de 1636% (1,7 milhão de hectares).

Outro fator crítico é o fogo: nos últimos 40 anos, 11,4 milhões de hectares da Caatinga foram queimados — área maior que o território de Portugal. A formação savânica concentra a maioria das ocorrências, com média de 78% das queimadas anuais.

A superfície de águas naturais também sofreu impacto, com perda de 21% (66 mil hectares). Atualmente, quase toda a área de água no bioma está ligada a hidrelétricas (42%) e reservatórios (32%), sobretudo na bacia do rio São Francisco.

Apesar das pressões, 10% da Caatinga está protegida por Unidades de Conservação (8,2 milhões de hectares), que preservam 13% da vegetação nativa. Ainda assim, mesmo nessas áreas houve redução: entre 1985 e 2024, a cobertura vegetal caiu 11,8% (-563 mil hectares).

O levantamento mostra que 86% dos municípios da Caatinga perderam vegetação nativa em quatro décadas. No entanto, mais da metade (55%) ainda preserva acima de 50% de sua área natural. O Piauí lidera em proporção de vegetação nativa (82%), enquanto Sergipe e Alagoas estão na outra ponta, com apenas 24% e 27%, respectivamente.

Chapada Diamantina

A Caatinga é um componente fundamental da paisagem e da biodiversidade da Chapada Diamantina, formando extensos mosaicos de vegetação que sustentam espécies endêmicas, ciclos hídricos e serviços ambientais essenciais para comunidades locais e para o turismo ecológico; apesar disso, o bioma enfrenta forte degradação na região, considerada uma das mais vulneráveis à perda de biodiversidade. Estudos locais apontam para declínios significativos de espécies e de cobertura nativa na Chapada Diamantina; em consonância com o plano nacional.

Fonte: MapBiomas | Foto: Tom Fisk/pexels

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