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Moradores bloqueiam BA-142 em novo protesto contra colapso do Rio Utinga

Comunidades denunciam que água não chega à parte baixa do rio há mais de 60 dias e exigem suspensão imediata da irrigação por grandes produtores.

Desde as primeiras horas da manhã desta terça-feira (7), moradores de comunidades da região de Wagner e Utinga, na Chapada Diamantina, bloquearam a rodovia BA-142 em protesto contra o colapso hídrico do Rio Utinga. A manifestação, que ocorre cerca de 1 km após o município de Wagner, sentido Utinga, não tem previsão de encerramento e depende da chegada de um representante do governo estadual para diálogo.

Os manifestantes, que não estão vinculados a associações ou movimentos organizados, denunciam que há mais de dois meses o rio está completamente seco na parte baixa, apesar da vazão na nascente. Segundo eles, o problema não é a falta de água, mas o consumo excessivo por grandes produtores agrícolas na parte alta do rio, que estariam utilizando sistemas de irrigação intensiva sem fiscalização adequada.

Os pequenos produtores rurais afirmam querer que o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) fiscalize “onde realmente precisa” e que suspendam imediatamente a irrigação nas áreas que ainda têm água, afirma um dos moradores presentes no protesto.

Um rio que abastece vidas e sobrevive apesar dos conflitos

O Rio Utinga nasce de um manancial subterrâneo e percorre uma área de 2.906 km² até desaguar no Marimbus, integrando a bacia hidrográfica do Rio Paraguaçu. Municípios como Utinga, Wagner, Bonito, Morro do Chapéu, Lajedinho, Ruy Barbosa, Iraquara, Lençóis, Mulungu do Morro e Andaraí dependem total ou parcialmente de suas águas.

De acordo com uma pesquisa da Comissão Pastoral da Terra (CPT), desde 1993, com a implementação do Plano Diretor de Recursos Hídricos, os antigos canais de regos e barramentos foram substituídos por bombas e mangueiras, sob o argumento de modernização e eficiência. No entanto, essa mudança acabou por centralizar o controle da água, enfraquecendo as tecnologias sociais de irrigação e a autonomia hídrica das comunidades locais.

A crescente expansão da agricultura irrigada nas margens do rio tem intensificado os conflitos pelo uso da água, especialmente em períodos de baixa pluviosidade. Na parte baixa do Utinga, o abastecimento humano tem sido sistematicamente prejudicado, gerando revolta entre os moradores que dependem do rio para sobrevivência.

Reivindicações dos manifestantes

  • Suspensão imediata da irrigação nas áreas com água disponível
  • Fiscalização rigorosa do INEMA nos pontos críticos da bacia
  • Reconhecimento da crise hídrica como resultado do consumo desproporcional por grandes produtores
  • Resgate das práticas comunitárias de gestão da água

A manifestação segue sem previsão de término, e os moradores afirmam que só liberarão a rodovia após serem ouvidos por autoridades competentes. Enquanto isso, o Rio Utinga, símbolo de vida e resistência na Chapada Diamantina, volta a ser o centro de uma disputa pela água, no que diz respeito a possibilidade de viver, resistir e produzir no território.

Ananda Azevedo | Fotos enviadas por populares

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