Indicador a nível nacional subiu de 7,4% no quarto trimestre de 2023 para 7,9% no primeiro tri deste ano. Rendimento média cresceu apenas no Sul, enquanto as demais tiveram estabilidade
A taxa de desemprego cresceu em oito estados no primeiro trimestre deste ano e só apresentou retração em um deles: no Amapá, onde houve queda de 14,2% para 10,9%. Houve aumento da taxa no Acre, Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo,
É o que apontam os dados Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Trimestral, divulgada pelo IBGE nesta sexta-feira. O indicador a nível nacional subiu de 7,4% para 7,9% na passagem do quarto trimestre de 2023 para o primeiro trimestre de 2024.
O aumento do desemprego no primeiro trimestre é um movimento já esperado e conhecido pelos economistas. Isso porque o início do ano é caracterizado redução da população ocupada e aumento do número de pessoas buscando trabalho.
— É um movimento que, ao longo da nossa série, a gente verifica. Seja por processo de dispensa no comércio ou em alguns serviços. Vimos isso este ano nos serviços domésticos e no setor público, com dispensa dos trabalhadores do segmento da educação sem vínculo formal que, via prefeituras, voltam a ser contratados com o retorno das aulas em março — explica Adriana Beringuy, coordenadora de Pesquisas por Amostras de Domicílios do IBGE.
O que dizem analistas?
Janaína Feijó, pesquisadora da área de Economia Aplicada do FGV Ibre, o índice de desemprego a nível nacional indica que o mercado de trabalho tem apresentado um bom desempenho, já que é a menor taxa para um primeiro trimestre desde 2014.
— Obviamente que tem heterogeneidades entre os estados. Às vezes, o emprego está mais ou menos aquecido a depender do dinamismo da economia. Mas esse resultado fortalece a tese de que o mercado está conseguindo apresentar melhores substanciais ao longo do tempo.
Por outro lado, aponta a economista, a perspectiva é que esse bom desempenho perca velocidade nos próximos trimestres. O aumento do desemprego em oito estados já é um sinal disso. E a catástrofe que atinge o Rio Grande do Sul pode ainda afetar o desempenho agregado adiante, alerta. Por ora, o Ibre/FGV projeta que o desemprego fique em 7,4% na média anual, abaixo da média de 2023, que foi de 7,9%.
— Esse fenômeno pode afetar outras cadeias de produção em outros estados, (e consequentemente o emprego). A depender de como a região Sul consegue sair dessa situação, e a velocidade com que isso vai ocorrer, vamos ver se esse fenômeno vai estar restrito ao segundo trimestre ou se ainda vai respingar no terceiro trimestre de 2024.
Para Lucas Assis, economista da Tendências, o resultado da taxa de desemprego no primeiro trimestre, descontados os efeitos sazonais, sinalizam um mercado de trabalho ainda apertado. Há um processo de aumento da ocupação que tem sido acompanhado pelo crescimento da população empregada ou ativamente procurando emprego, o que impede uma queda da taxa de desemprego.
— A expectativa para o restante do ano é de ligeiro avanço da taxa de desocupação na série sem efeitos sazonais, especialmente na segunda metade de 2024.
Desemprego por estado, no primeiro trimestre de 2024:
- Acre: 8,9%, alta de 2 p.p.
- Bahia: 14%, alta de 1,4 p.p.
- Maranhão: 13%, alta de 1,3 p.p.
- Mato Grosso do Sul: 5%, alta de 1 p.p.
- Minas Gerais: 6,3%, alta de 0,6 p.p.
- Santa Catarina: 3,8%, alta de 0,6 p.p.
- Rio Grande do Sul: 5,8%, alta de 0,6 p.p.
- São Paulo: 7,4%, alta de 0,5 p.p.
- Pernambuco: 12,4%, estabilidade
- Rio de Janeiro: 10,3%, estabilidade
- Piauí: 10%, estabilidade
- Sergipe: 10%, estabilidade
- Paraíba: 9,9%, estabilidade
- Alagoas: 9,9%, estabilidade
- Amazonas: 9,8%, estabilidade
- Rio Grande do Norte: 9,6%, estabilidade
- Distrito Federal: 9,5%, estabilidade
- Ceará: 8,6%, estabilidade
- Pará: 8,5%, estabilidade
- Roraima: 7,6%, estabilidade
- Tocantins: 6,0%, estabilidade
- Espírito Santo: 5,9%, estabilidade
- Paraná: 4,8%, estabilidade
- Rondônia: 3,7%, estabilidade
- Mato Grosso: 3,7%, estabilidade
- Amapá: 10,9%, queda de 3,4 p.p.
As maiores taxas de desemprego foram registradas na Bahia (14%), Maranhão (13%) e Pernambuco (11,9%). Já as menores foram observadas em Rondônia (3,7%), Mato Grosso (3,7%) e Santa Catarina (3,8%).
— A maior parte dos estados mostrou tendência de crescimento, embora apenas oito com crescimento estatisticamente significativo — diz Adriana.
Na análise por região, o desemprego cresceu no Nordeste (de 10,4% para 11,1%), no Sudeste (de 7,1% para 7,6%) e no Sul (de 4,5% para 4,9%). Norte e Centro-Oeste tiveram estabilidade.
Rendimento cresce apenas no Sul
O rendimento médio foi estimado em R$ 3.123 no primeiro trimestre deste ano, o terceiro maior nível para a série histórica, iniciada em 2012. O valor representa uma alta em relação ao quarto trimestre do ano passado, quando ficou em R$ 3.077, e também frente ao primeiro trimestre de 2023 (R$ 3.004).
No entanto, quando analisadas as regiões na comparação trimestral, apenas a região Sul apresentou crescimento da renda no período: R$ 3.401. As demais tiveram estabilidade. Já em relação ao mesmo tri do ano anterior, o rendimento cresceu no Norte, Sudeste e Sul, com as demais em estabilidade.
A absorção de pessoas com maior nível educacional é um dos fatores que ajuda a explicar o avanço no rendimento, diz a economista do Ibre/FGV:
— Essas pessoas chegam com capacidade de receber mais devido à escolaridade, e isso influencia essa média a subir. Na região Sul, esse fenômeno pode ter sido ainda mais forte, dado que foi a única região a registrar esse aumento expressivo (no primeiro trimestre) — explica Janaína.
A massa de rendimento médio mensal real de todos os trabalhos foi de R$ 308,3 bilhões, estável ante o trimestre anterior e maior do que no 1º trimestre de 2023 (R$ 289,1 bilhões). Todas as grandes regiões tiveram aumento da massa de rendimento em ambas as comparações.
Fonte: O Globo | Foto: Agência O Globo