Inclusão na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) valoriza saberes ancestrais e fortalece direitos trabalhistas de diversas de profissionais.
O Governo Federal acaba de oficializar a inclusão da profissão de trancista na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), sob o código 5161-65. A medida representa um marco para o reconhecimento do trabalho de milhares de profissionais que atuam com a arte das tranças em todo o país, fortalecendo a valorização da estética afro-brasileira e promovendo a inclusão produtiva de trabalhadoras, em sua maioria mulheres negras.
Com a nova classificação, trancistas passam a integrar o grupo de profissionais dos serviços de embelezamento, ao lado de cabeleireiros, barbeiros, manicures, maquiadores e designers de sobrancelhas. O CBO também reconhece outras denominações da atividade, como artesã capilar, trançadeira capilar e profissional das tranças.
O reconhecimento e formalização da profissão é uma conquista coletiva que fortalece os direitos trabalhistas, combate o racismo estrutural, valoriza os saberes tradicionais afro-brasileiros e é fruto de articulações iniciadas em 2023, com apoio de lideranças políticas e sociais.
Em Seabra, a trancista Sabrina Ferreira é uma das pioneiras e exerce a profissão há aproximadamente nove anos. Ela conta que iniciou na arte de trançar os cabelos ao procurar uma profissional na cidade e não encontrar. No começo, fazia as tranças em si mesma e, conforme foi aprendendo novas técnicas, percebeu que poderia virar uma profissão.
Ela conta que já trabalhou em outras atividades, mas foi na trança que encontrou a sua vocação. “É a minha principal fonte de renda, já trabalhei em mercado, lojas, mas na atividade com as tranças foi onde eu mais me encaixei. E pretendo continuar por um bom tempo, ainda mais agora que está sendo reconhecida como uma profissão’, contou. Em seu relato, a trancista conta que sempre que ia realizar algum cadastro precisava dizer que era cabeleireira ou autônoma porque a profissão não era reconhecida. “Agora já é outra coisa, dá orgulho de falar que sou trancista”, comemorou.
Lei
O Projeto de Lei nº 2831/2024 é de autoria da deputada federal Rogéria Santos (Republicanos-BA), com apoio da vereadora Ireuda Silva, ambas tendo atuado nas articulações com o Ministério do Trabalho para oficializar a inclusão com base em uma mobilização coletiva de lideranças políticas, sociais e culturais.
A inclusão valoriza um ofício ancestral, e seu reconhecimento abre caminhos para a criação de políticas públicas voltadas à categoria, promovendo segurança jurídica, acesso a direitos trabalhistas e estímulo à profissionalização.
Para as trancistas, em sua maioria mulheres negras, o reconhecimento significa maior dignidade, visibilidade e pertencimento. A oficialização representa um passo firme em direção à valorização dos saberes afro-brasileiros que sustentam a economia criativa e a resistência cultural do país.
Ananda Azevedo | Com informações de Sepromi | Foto: Acervo pessoal Sabrina Ferreira