Denúncias de problemas de saúde e comprometimento das casas estão entre as queixas, além de impossibilidade de geração de renda pela agricultura.
Nas comunidades de Cruzes, Malhada e Lagoa dos Bastos, na zona rural de Piatã, na Chapada Diamantina, há aproximadamente dois anos, as comunidades lutam contra os problemas deixados pela abertura de uma estrada que corta o território até o Parque Eólico Novo Horizonte, da empresa Pan American Energy. A estrada foi aberta pela empresa para viabilizar a passagem de maquinários, caminhões, equipamentos e das usinas eólicas que foram instaladas na região. A estrada virou passagem para carros de outros municípios, carregamentos de morango, banana e das carretas que transportam grandes fragmentos das pedras de minério de uma pedreira que fica na região.
A pequena localidade se viu invadida e com graves problemas causados pela alta dispersão de poeira da estrada de terra, feita de forma rudimentar e sem planejamento, que passa entre as casas e pequenos comércios da região. O tráfego intenso e de veículos pesados vem destruindo a comunidade, onde portas e janelas não podem mais ser abertas, não se aproveita mais frutas, legumes e verduras plantados pela população local, pequenos comércios estão fechando as portas e moradores não conseguem mais se livrar de problemas respiratórios, pulmonares e da ansiedade pela perda do seu modo de vida.
Entre os grandes problemas está o abalo à estrutura das casas, em sua maioria feitas de adobe, que com o fluxo intenso de carros pesados, começaram a rachar, algumas tendo sido condenadas, desabrigando seus moradores. Alguns deles, não tiveram para onde ir, e convivem com o medo e as rachaduras; outros, abandonaram casas e móveis para viver com parentes. A maior parte deles se queixa de nunca terem recebido indenização ou terem recebido valores irrisórios. Um homem que perdeu a casa afirma que recebeu da empresa apenas dois metros de brita, três de areia e três barras de ferro. Em outros casos, segundo os moradores, a empresa afirmou que as casas de adobe não seriam indenizadas.


Essas denúncias foram feitas em uma reportagem da Folha de São Paulo que, no início de junho, contou também a história do adolescente Paulo Gustavo que, ao brincar na margem dessa estrada, em uma vala feita pela empresa eólica para escoamento da água da chuva, foi soterrado e morreu. Um amigo do garoto ficou preso até a cintura e conseguiu chamar ajuda, mas não deu tempo de salvar Paulo Gustavo.
De posse dessas denúncias, e outras relacionadas à falta de Estudo de Impacto Ambiental e consulta prévia às comunidades, o promotor Alan Cedraz, do Ministério Público da Bahia (MPBA) esteve, nessa quarta-feira, na comunidade de Cruzes, zona rural de Piatã, na Chapada Diamantina, em uma audiência pública de escuta às comunidades afetadas.
Durante a manhã, mais de 55 moradores estiveram presentes ao Centro Educacional das Cruzes, na zona rural de Piatã, para apresentar suas queixas em relação aos problemas que vêm enfrentando e entregar documentos, registros fotográficos e em vídeo, relatórios médicos para contribuir com o processo a ser instaurado pelo MPBA.

A associação dos moradores fez uma retrospectiva de todo o enfrentamento à falta de solução para a situação da estrada, que incluiu em torno de dez manifestações e paralisações da estrada, segundo eles, todas dispersadas pela polícia. As promessas, portanto, de pavimentação da estrada pela empresa, seguem sem cumprimento.
A reunião contou com a presença de dois advogados da Associação de Advogados dos Trabalhadores Rurais, que também ouviu os problemas que a população enfrenta e poderá contribuir com assistência jurídica à comunidade. O Grupo Ambientalista da Bahia também acompanhou a reunião, representado pelo coordenador Rafael Freire.
Presentes à reunião, também, estavam membros da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Piatã, incluindo o gestor da pasta, Edmar Araújo. Como encaminhamento da reunião, a comunidade receberá a visita da equipe técnica do Ministério Público (CEAT) para análise de todos os impactos físicos, ambientais e socioeconômicos do empreendimento.
Ananda Azevedo | Foto: Ananda Azevedo