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Festival de Jazz do Capão celebra 12 edições com arte, consciência e resistência

Evento gratuito reúne música e ações ambientais no coração da Chapada Diamantina.

Nos dias 19 e 20 de setembro de 2025, o Vale do Capão, em Palmeiras, na Chapada Diamantina, será novamente palco de uma verdadeira celebração de boa música e conscientização: o Festival de Jazz do Capão (FJC) chega à sua 12ª edição comemorando 15 anos de existência com o lema “Resistir com Alegria e Arte”. A programação gratuita acontece no Circo do Capão, a partir das 19h, e inclui seis shows com artistas regionais, nacionais e internacionais, além das tradicionais Mostra Capão e Mostra UFBA.

Idealizado por Rowney Scott, o FJC vai além da música. “Temos como premissa a defesa da inclusão social, a diminuição das desigualdades e o desenvolvimento sustentável. Vivemos tempos difíceis, onde uma parte considerável da humanidade tende para movimentos de isolamento, de exclusão e de violência ideológica. É importante estarmos conectados para não permitir que esse retrocesso civilizatório se torne irreversível. Sim, somos apenas um grão de areia, mas acreditamos nas micro revoluções e na construção de uma rede, forte como uma teia sob o temporal. Por isso, para 2025 temos o mote ‘Resistir, com Alegria e Arte’”, afirma o curador. Para Rowney, o festival se posiciona como espaço de resistência cultural e ambiental, promovendo micro revoluções através da arte e da conexão comunitária.

Workshops e vivências

A programação inclui três oficinas abertas ao público:

  • Dança Flamenca com El Mawi de Cádiz (19/09, 14h, Coreto da Vila);
  • Canto Flamenco com Antonio Lizana (19/09, 15h30);
  • Tambor vai chegar com Tedy Santana (20/09, 14h).

Compromisso ambiental

Desde suas primeiras edições, o FJC promove campanhas de conscientização ambiental. Em 2025, a coleta seletiva será reforçada em parceria com o Recicla Capão, e os fornecedores de alimentos utilizarão apenas utensílios biodegradáveis ou retornáveis. A organização também atua contra a especulação imobiliária e incentiva práticas sustentáveis como o uso reduzido de veículos no Vale.

Para fortalecer instituições comunitárias, o festival disponibiliza produtos como camisas e canecas, com 100% do lucro a ser revertido para a Comissão de Festeiros de São Sebastião e a Escola Comunitária Brilho do Cristal.

Com sua proposta de unir arte, reflexão e ação, o Festival de Jazz do Capão reafirma seu papel como espaço de escuta, contemplação e transformação — em sintonia com a natureza e com a comunidade que o acolhe.

Curadoria e atrações musicais

A curadoria conduzida por Rowney Scott continua com o direcionamento de trazer artistas inéditos para o festival, tentando abarcar a maior variedade possível de expressões artísticas, com trabalhos amadurecidos conceitualmente e com performances qualificadas em termos técnicos e interpretativos.

A abertura no dia 19 de setembro (sexta-feira) é um convite a essa descoberta de talentos, com o show da Mostra UFBA trazendo o pianista, cantor, compositor e produtor cultural natural de Feira de Santana (BA), Tito Pereira, que apresenta composições do seu álbum “Alegria” com temas de Chick Corea, Keith Jarrett e Toninho Horta, sempre buscando novos arranjos e improvisos, celebrando a vida através de homenagem às suas referências musicais. Em formato quarteto, Tito estará acompanhado de Victor Brasil (bateria), Nino Bezerra (contrabaixo) e Davi Britto (trompete).

O segundo show da noite de sexta é da clarinetista, saxofonista e compositora carioca, Joana Queiroz, que vem desenvolvendo uma personalidade musical própria ao longo de mais de 20 anos de carreira, amalgamando diversas influências dentro de diferentes linguagens da música brasileira. No FJC apresenta suas músicas em nova formação, entremeando composições de várias fases com momentos de improvisação livre e participações surpresa que remontam às suas passagens musicais pela Bahia. Sua trupe será formada por Sérgio Krakowski (pandeiro), Bruno Aguilar (baixo), Antonio Fischer-Band (teclado) e Marcos Santos (bateria). O repertório será em sua maior parte instrumental, mas contará também com algumas canções, e a proposta é que todos estejam em escuta atenta abertos ao inesperado.

E para fechar a primeira noite do FJC recebemos Tedy Santana, que é baterista, compositor e criador de estruturas sonoras nascido em Salvador (Bahia), com mais de 30 anos de trajetória. No festival, Tedy apresenta um show que coloca o samba no centro de uma experiência artística singular, atravessada pelo diálogo entre tradição e contemporaneidade. No palco, junto ao grupo formado por Alexandre Vieira (contrabaixo e voz), Bruno Aranha (teclado e sanfona), DJ Mangaio (manipulação sonora e efeitos), Mustafa (canto) e Nilton Azevedo (flauta, saxofone, clarinete), Tedy Santana mistura composições autorais, além de temas de artistas brasileiros e improvisações.

No sábado (20/09), segundo dia de atrações, o FJC recebe a Mostra Capão no dia 20 de setembro, que vai oferecer o encontro de dois grupos com sonoridades e conceitos bem distintos, onde a música mais natural e intuitiva do Vozes de Raiz dialoga com a força orgânica e eletrônica do Evapora.

Criado no Vale do Capão em 2019, por Carolina Endi (voz, violão, sanfona, kalimba e percussão), Vozes de Raiz é um grupo musical feminino e transcultural composto por mulheres de diversos cantos do mundo, como Mai Sato (voz, harpa e rabeca), Ana Shanti (voz, violão e percussão) e Raquel Roriz (voz, pandeiro e efeitos). O grupo mescla melodias e ritmos ancestrais com novas vibrações de paz e cura. Sua música é um abraço que une continentes, uma oração que se expande no coração de quem ouve. Com arranjos de cantos tradicionais e sagrados dos povos originários do mundo e músicas medicinais autorais, inspiradas nas forças da Natureza, no universo feminino e nas virtudes da alma. O grupo já se apresentou em festivais no Brasil e na Europa, participou da trilha sonora do curta-documentário Guardiãs do Nascimento na Chapada Diamantina (2022) e lançou músicas autorais nas plataformas digitais: Águas Sagradas, Meu Sangue (2024) e No Sopro do Vento, em parceria com Pablo Rozas Remix (2025).

Evapora também se apresenta na Mostra Capão e é um duo musical formado pela cantora baiana Raquel Roriz e pelo produtor musical chileno Pablo Molina. O projeto surgiu com a intenção de criar uma musicalidade própria que une experimentação sonora, ancestralidade e espiritualidade. Com influências de Soul, Reggae, Afrobeat e DownTempo. O duo atua de forma independente, produzindo suas faixas, arranjos e performances a partir do estúdio criativo Pedras Elementais, na Chapada Diamantina (BA), onde vivem e desenvolvem sua linguagem, criando composições autorais que equilibram orgânico e eletrônico, música e consciência. Evapora apresentará uma performance ritual onde a poesia conscientizadora se entrelaça com batidas eletrônicas, groove da guitarra, vozes e efeitos.

Luíza Britto e o Trio Cravo e Canela, com participação especial do guitarrista Tarcísio Santos. Em um primeiro momento, Luíza convida o público a mergulhar em um repertório que entrelaça suas composições com leituras inéditas de clássicos da canção brasileira. O show propõe um diálogo constante entre estrutura e improviso, onde cada canção é um ponto de partida para paisagens sonoras abertas. Na sequência, o Trio Cravo e Canela apresenta composições autorais, lançadas em seu primeiro EP “Trio Cravo & Canela”, e versões instrumentais da MPB, em uma revisita aos “piano trios” dos anos 60 e 70, como o Rio65, Zimbo Trio e Som/3, além de composições de Gil, Caymmi e Donato.

Em mais de uma década de carreira como cantora e mais recentemente como compositora, a baiana Luiza Britto firmou parcerias e dividiu palcos com nomes como Toninho Horta, Rosa Passos, Vanessa Moreno, Bem Gil, Mãeana, Moreno Veloso, Fábio Torres, Tatiana Parra, Daniela Mercury e Saulo Fernandes. Atuou no carnaval de Salvador ao lado da Orkestra Rumpilezz, foi finalista do 22⁠º Festival da Educadora FM com a canção autoral “Coisinha” e assina trilhas como a do quadro Mulher & Mãe, exibido no Band Mulher.

O Trio Cravo & Canela foi formado na Escola de Música da UFBA em 2022 e é composto por Caio Ferreira no piano, Giroux Wanziler no baixo e Uirá Nogueira na bateria. O grupo foi formado a partir de um mesmo desejo: o desafio do improviso, executando um repertório em um recorte da música brasileira instrumental. Eles tocam compositores como Dominguinhos, Gilberto Gil, Dorival Caymmi e João Donato, em diversos gêneros, propondo arranjos originais, mas sempre contemplando a improvisação. Inspirados em clássicos de trios como Som/3, Rio 65 e Zimbo Trio, além de composições autorais, cada membro traz influências de gêneros como Samba Jazz, Samba Baião e a Bossa Nova.

Para fechar a noite do último dia, recebemos a nossa atração espanhola, Antonio Lizana que une Flamenco e Jazz com arte, extraindo, com sua voz e seu saxofone, a essência dessa ousada fusão. Referência da nova geração do Flamenco, o jovem cantor, saxofonista e compositor abriu caminho desde seus primórdios no mundo do Jazz contemporâneo e do Jazz-fusion, contudo, sem perder suas raízes. Antonio Lizana já se apresentou em mais de 30 países com sua banda e chega pela primeira vez no Brasil com o seu grupo, para se apresentar no Festival de Jazz do Capão na companhia de Josep Pou (piano), Arin Keshishi (baixo elétrico), Shayan Fathi (bateria) e El Mawi de Cádiz (canto e dança).

“Temos um olhar também especial, na medida do possível, para a presença da mulher e de trabalhos relacionados à música de matriz africana. Assim como a busca por artistas e trabalhos de outros países e culturas, como em anos anteriores (Alemanha e Estados Unidos), e agora com a vinda inédita ao Brasil, do artista espanhol Antonio Lizana e seu quinteto. A escolha dos artistas leva em consideração também a presença e utilização da improvisação e os aspectos criativos dos trabalhos, tanto nas performances quanto nas composições. As mostras UFBA e Capão, continuam abrindo espaço para as expressões musicais dos estudantes da UFBA e dos músicos residentes no Vale”, destaca Scott.

Pela sétima vez, o FJC conta com apoio financeiro do Edital de Eventos Calendarizados do Fundo de Cultura da Bahia. O projeto tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia, com realização da CulturaTAO.

“Mesmo com o Apoio Financeiro do Fundo de Cultura da Bahia, os desafios para a manutenção de um evento calendarizado são grandes. Todos os anos, a dificuldade em viabilizar o patrocínio complementar nos coloca na condição de festival de baixo orçamento, buscando apoios e parcerias para reduzir os custos do Festival e manter o evento existindo. Por isso resistimos, para existir”, destaca o produtor executivo e sócio da CulturaTAO, empresa realizadora do evento, Tiago TAO.

Com informações da assessoria | Foto: Clara Solano

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